A pesquisa de Caio Gonçalves Dias procura entender como a cultura foi pensada durante o processo de redemocratização, e a persegue até a dissolução material e simbólica experimentada desde o início do governo Bolsonaro. Apresenta, em doses equilibradas, a escrita sensível de seu autor, a teoria em momento certo, uma narrativa límpida e ao mesmo tempo crítica. A obra se debruça no passado, mas ilumina os abismos do presente, com o Ministério sendo liderado por pessoas sem preocupação com a cultura e suas potencialidades. A cultura é o que faz, e Caio mostra como ela, que já teve papel central nos planos de governo e na imaginação dos brasileiros, se encontra hoje sucateada e controlada por políticos que veem nela uma bengala; não um instrumento
da e para a cidadania. O leitor tem nas mãos uma história bem contada, bem escrita, documentada e exemplar na análise que realiza. É ler sem parar.
Lilia Moritz Schwarcz
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O livro de Caio Gonçalves Dias vem preencher um importante espaço reflexivo sub-representado e subavaliado. Suspendendo os sentidos comuns de cultura, políticas públicas e políticas culturais, o autor toma para cenário de sua análise o amplo ciclo da redemocratização após a ditadura civil-militar instalada com o golpe de Estado de 1964 (sendo consciente do que vem antes e presenciando e vivendo o que é o momento contemporâneo), focada nos processos de institucionalização de imagens da cultura, e de sua organização em um Ministério há muito reivindicado.
Com base numa sólida pesquisa de mais de uma década, em que a etnografia a partir de documentos, a leitura fina da bibliografia analítica existente, as reflexões teóricas de uma antropologia do Estado, além do implícito de sua ampla experiência de atuação em numerosas iniciativas do terceiro setor na esfera das ações culturais, Caio Gonçalves Dias nos mostra ao longo dos oito capítulos do livro como sucessivos modelos de gestão da pasta acabam por confluir no tratamento das ações de Estado, e de que forma ampliariam significativamente o lugar social da cultura, sendo elemento essencial da construção do Brasil democrático que se busca destruir desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Ao promover tais deslocamentos e desenraizar a discussão das políticas culturais de um nicho confortável, Caio Gonçalves Dias as desloca para o campo da guerra continuada sob a forma de exercícios de poder, em especial de poderes estatizados. Com isso permite que entendamos como o cenário contemporâneo da chamada guerra cultural se tornou possível, hoje se faz Estado e busca dissolver as construções anteriores. Longe da ausência de uma política, vê-se a intenção de destruir e ocupar com valores e quadros ligados às mais variadas vertentes do que vem sendo chamado de (neo)conservadorismo. Aqui, o governo da cultura não se encerrou, ou se constitui num
desgoverno, mas se dá pela tentativa de (re)orientar sua produção no rumo dos valores (neo)conservadores e autoritários.
Antonio Carlos de Souza Lima
7 prefácio | O governo da cultura
Antonio Carlos de Souza Lima
13 apresentação
37 capítulo 1 | Institucionalização das políticas culturais
no Brasil contemporâneo: a criação do Ministério da
Cultura e a perspectiva para a cultura como direito
39 A criação do Ministério da Cultura e suas implicações
48 A cultura como direito na criação de um país democrático
58 Somando instituições: o Ministério da Cultura em sua
formação inicial
61 capítulo 2 | As leis de incentivo, a normatização
do marketing cultural no Brasil e o fortalecimento
do Ministério da Cultura
62 As Leis Federais de Incentivo à Cultura
73 As leis de incentivo aplicadas: a normatização a partir
de documentos administrativos
82 A normatização do marketing cultural
93 capítulo 3 | Elaborações das políticas culturais pela
administração pública: as proposições de ministros
da Cultura
95 Celso Furtado e a noção de cultura como antropologia filosófica
101 Francisco Weffort: um modelo neoliberal?
108 Gilberto Gil e as políticas públicas de cultura como do-in
antropológico
121 capítulo 4 | Os conceitos de políticas culturais
e a produção de conhecimento institucionalizada
123 Novos aportes institucionais para elaboração e reflexão em torno
das políticas culturais
131 Entre conhecimento científico e políticas públicas
145 capítulo 5 | Reflexões sobre Estado e cultura
no Brasil nos anos 1980
146 Estado e cultura no Brasil, 1984
150 Partido
156 Militância intelectual
159 Estado
165 Universidade
173 capítulo 6 | As políticas culturais como políticas
públicas de cultura
177 As políticas públicas de cultura como categoria nativa
185 Enunciando problemas e arregimentando soluções
201 capítulo 7 | Historicizações, teorias do Brasil e noções
de cultura
202 Os usos da história
208 Noções de Brasil, identidade e diversidade
218 O cultivo do homem: cultura e moralidades
227 capítulo 8 | Desmonte: política cultural e
ultraneoliberalismo, de Michel Temer a Jair Bolsonaro
232 Michel Temer, a tentativa de dissolução do MinC
e a reação democrática
236 A cultura no jogo eleitoral de 2018
246 O governo Jair Bolsonaro e a gestão da cultura
na administração pública
262 Política cultural na guerra híbrida
267 referências
295 sobre o autor
Código de Barras: 9786586464436
Tipo de Item: Livro
Formato da Edição: Brochura
Data de Lançamento: 20/07/2021
Idioma: Português
Título: A cultura que se planeja
políticas culturais, do Ministério da Cultura ao governo Bolsonaro
Autor(es): Dias, Caio Gonçalves (Autor)
ISBN: 9786586464436
Número de Páginas: 296
Editora: Morula
Selo: Mórula Editorial
Área: Humanidades
Assuntos: Cultura,Políticas culturais,ministério da cultura,governo bolsonaro
Classificação indicativa: Livre para todos os públicos
(Todos os dados acima conforme informados pela editora)